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ARTIGOS PUBLICADOS NO JORNAL DE SINTRA
~ ANO 2016 ~

O Mestre da
Ordem do Templo

O Mestre da Ordem do Templo
por Miguel Boim - Jornal de Sintra, edição de 08 de Abril de 2016

    Por volta do ano 1118 um pequeno grupo de cavaleiros uniu-se em Jerusalém para tentar proteger aqueles que iam em peregrinação pela Europa até Jerusalém. Sediaram-se num simbólico monte da Terra Santa. Nesse monte acreditava-se ter existido o templo do Rei Salomão. Esse simbolismo iria ficar marcado no nome daquele grupo de cavaleiros: Cavaleiros do Templo, passando mais tarde a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão.

    Antes, durante ou depois daquele mesmo ano de 1118, nascia no Condado Portucalense aquele que foi de nome tomado como Gualdim Pais.

Pedra em casa de Sintra com aquilo que se assemelha a cruzes templárias (e igualmente a iconografia paleocristã)

O Mestre da Ordem do Templo - Miguel Boim, O Caminheiro de Sintra - Jornal de Sintra - 1.

    Um dos pontos mais altos da vida de Gualdim foi a sua presença na célebre Batalha de Ourique, em que os homens do Condado Portucalense, em clara desvantagem, levaram os mouros de vencida, havendo no fim Afonso Henriques proclamado per si, Rei de Portugal.

    O Rei Fundador, que havia sido por si próprio investido cavaleiro na Catedral de Zamora anos antes - costume único de reis -, investiu também ele Gualdim Pais como cavaleiro.

 

    A conquista de Lisboa aos mouros por parte de D. Afonso Henriques com a ajuda de cavaleiros do norte da Europa que, seguindo no Atlântico, faziam parte da Cruzada que os levava a Jerusalém, foi um dos pontos-chave da Reconquista. Mas Afonso Henriques contava também nas suas fileiras com o cavaleiro Gualdim. O cerco ao Castelo de Lisboa durou três meses e, findo esse, ainda se passou mais um mês até que o Castelo - ou apenas fortaleza - de Sintra ficasse em poder do Rei de Portugal.

O Mestre da Ordem do Templo - Miguel Boim, O Caminheiro de Sintra - Jornal de Sintra - 2..

Reprodução de selo utilizado na doação de D. Afonso Henriques a Gualdim Pais, de casas e propriedades em Sintra

    A II Cruzada decorreu entre 1145 e 1149 e levava continuamente homens dos reinos da cristandade até à Terra Santa. Foi nessa circunstância que Gualdim se encaminhou para Jerusalém. E já em 1153 sabemos do cerco - de mais de seis meses - e captura da grande fortaleza de Ascalona por parte do Reino de Jerusalém, com a ajuda do Grão-Mestre dos Templários e seus homens, nos quais se incluía o cavaleiro português Gualdim Pais.

    Sabe-se ainda que, após esse cerco e captura, Gualdim fez ainda parte da defesa do Principado de Antioquia contra os infindáveis ataques dos inimigos do médio oriente.

 

    O português regressaria nos anos seguintes a Portugal, não apenas como Templário, mas como Mestre da Ordem dos Templários no Reino de Portugal. Um dos documentos em que podemos confirmar a data e grau dentro da Ordem é precisamente o das doações de algumas casas e propriedades em Sintra, por parte Rei D. Afonso Henriques ao Magistro da Ordem dos Templários, Gualdim Pais, no ano de 1157.

 

    De facto essas doações foram feitas ao Mestre, pelos seus fideli servitio (fiéis serviços) sempre prestados. E outro facto é que, mesmo tendo tido a Ordem poder no Reino sobre determinados castelos - assim como povoações - a doação de Sintra refere apenas algumas casas e propriedades.

Uma publicação do tempo do Estado Novo, em que os Grandes Portugueses eram reavivados

O Mestre da Ordem do Templo - Miguel Boim, O Caminheiro de Sintra - Jornal de Sintra - 3.

    Durante muito tempo se supôs que o Palácio da Vila fosse uma dessas casas. E por vezes se supõe que até o Castelo de Sintra esteve em poder dos Templários. Nas últimas décadas do século XX alguns historiadores locais conseguiram fazer surgir hipóteses para localizações de algumas dessas casas; e das propriedades sabe-se o nome de uma, que eventualmente se enquadraria na faixa de terra que vai da Quinta do Almisquer até à Quinta da Regaleira, muito possivelmente passando hoje pelo hostel Almaá e pela Casa do Fauno.

    Na década de 1970 houve um espeleólogo que andou por alguns túneis derrocados no subsolo da Vila, assim como no subsolo do Castelo de Sintra. Sugeriu que aqueles túneis podiam ter sido construídos para fuga, pois os da Vila apresentavam uma configuração que no seu corte pelas derrocadas pareciam ligar a eventual localização das casas que tinham pertencido aos Templários, ao Palácio da Vila. E que por aí teriam inclusivamente passado tesouros.

 

    Mas Sintra pode realmente ter sido influenciada por Gualdim Pais, Mestre da Ordem dos Templários. Refiro-me a algo que se aproxima mais do que realmente conhecemos dentro da nossa História do que a mitos. Naqueles tempos na Terra Santa, a necessidade fazia mover muito mais rapidamente o homem do que em outros locais de paz; e associado ao aspecto da guerra encontramos por exemplo a arquitectura; é um facto que Gualdim trouxe algumas inovações dos fervorosos tempos de Cruzada na Terra Santa enquanto Templário e que cá, enquanto Mestre, foram aplicados. Foram-no o alambor (estrutura da base da muralha) do Castelo de Tomar, os hurdícios (normalmente estruturas de madeira, cobertas, que permitiam que uma muralha se “tornasse transitável” para o lado de fora), e a construção de inúmeros castelos no Reino. O gigante e belo Almourol foi uma dessas fortalezas. E tanto como levantá-las foi a aplicação de algo moderno na época, e que nós hoje em dia tomamos como tendo sempre feito parte do tempo: a implantação de torres de menagem (torre principal, normalmente a mais ampla, no interior do castelo).

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Pedra com cruz templária - ou que se assemelha - na muralha do Castelo dos Mouros, em esboço do autor

    E... Sabemos que o Castelo de Sintra teve uma torre de menagem. Sabemos também, que o Castelo sofreu várias remodelações, algumas delas nesse mesmo século XII. Aliás, conseguimos até ver diferentes épocas de construção - e reconstrução - ao ver o aparelho da muralha, ao tentar perceber o padrão com que as pedras foram dispostas na muralha, quando estamos junto da antiga capela do Castelo.

    Sabe-se ainda que essas casas e propriedades que os Templários - depois da morte de Gualdim - detinham em Sintra passaram na segunda metade do século XIII para D. João Peres, íntimo do Rei D. Afonso III e senhor das terras Aboim e tendo outras estabelecido como Boim ou Voym. E sabe-se também que os bens e conhecimentos da Ordem dos Templários passaram no século XIV, com a extinção dessa, para a nova Ordem de Cristo, devido ao Rei D. Dinis. A Ordem de Cristo, que impulsionou os Descobrimentos.

    E foram os Templários e Gualdim Pais, seu primeiro Mestre em Portugal, que também ajudaram a vivenciar os primeiros séculos de Sintra enquanto terra do Reino de Portugal, com o actual imaginário de lendas dos supostos misteriosos túneis e tesouros, das medievais casas de pedra e madeira, e torres que bem alto na escarpa do Castelo nos levam até ao passado...

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por Miguel Boim, O Caminheiro de Sintra

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